Quando pensamos em investir em algo, como, por exemplo, uma empresa, o que é mais importante? Obtermos notoriedade e amplo conhecimento popular sobre nossa empresa ou lucratividade?
Afinal, nem sempre fama traz lucratividade. Tudo depende da chamada relação “custo-benefício”.
Ou seja. A relação entre o investimento e lucros. O saldo positivo do negócio. Se tivermos uma empresa enorme, com milhares de empregados, de produção em massa, porém, de baixa lucratividade líquida (lucro bruto descontadas as despesas e impostos), que paga poucos dividendos aos seus acionistas, então não teremos um bom investimento, mas sim um paquiderme, um “elefante branco” que consome muitos esforços, despesas fixas e responsabilidades trabalhistas, para produzir pequenos lucros.
Por outro lado, se tivermos uma empresa média, com poucos empregados e razoável produção, porém, de grandes resultados em termos de lucro líquido, ai sim, seremos empresários bem sucedidos e competentes.
Se uma empresa investe muito numa linha de produtos e somente um ou dois conseguem grandes vendas, ou demanda popular, o nome da mesma poderá até se tornar conhecido, porém o investimento terá fracassado, se considerarmos as pesquisas, empregados, máquinas, tempo de trabalho, despesas publicitárias, etc.
Portanto, houve um erro de avaliação e “marketing”, por não ter sido previsto o fracasso de vendas dos demais produtos, que consumiram tanto investimento para nenhum resultado ou “benefício”.
Esporte=competição=guerra=supremacia!
Há tempos as olimpíadas e competições esportivas deixaram de ser para amadores e se transformaram num imenso investimento comercial, funcionando como “vitrines” de exposição para profissionais patrocinados a peso de ouro, bem mais valioso do que uma medalha banhada.
Quando comentei que o Brasil estava apresentando o pior desempenho de suas participações olímpicas, alguns estranharam, lembraram de Sydney, cheguei a receber uma crítica exigindo a minha “retratação”, por ter cometido um erro e ser um ignorante neste assunto.
Quem se deixa guiar pelo quadro geral de medalhas, onde o ouro determina a classificação de cada país, desconhece estatística de desempenho e resultados por objetivos.
Desde criança pratiquei esportes em diversas modalidades, competi em campeonatos e acompanhei todas as olimpíadas , PANs e mundiais. Sei de cor os nomes de diversos atletas dos últimos 50 anos e suas conquistas. Portanto, não sou tão leigo na matéria como alguns possam ter pensado.
Sob este aspecto, embora seja mais por “ufanismo” e “patriotada”, os norte-americanos estão certíssimos, ao considerarem a classificação pelo total de medalhas e não somente pelas de ouro e explico a razão.
Qual a melhor relação custo-benefício e resultado geral, mais positivo, se levarmos em conta que um país invista por 4 anos em 200 pessoas, incluindo técnicos, dirigentes, viagens, hospedagens, alimentação, cobertura de saúde, etc? 1 medalha de ouro, nenhuma de prata e nenhuma de bronze e se classificar na décima posição no quadro de medalhas, ou outro que obtenha nenhuma de ouro, mas 20 de prata e 30 de bronze e se classifique em trigésimo lugar?
Enquanto bilhões de telespectadores assistirão apenas uma vez o atleta deste país subir no pódio e seu hino ser executado, 50 vezes assistirão os do outro país, pois o que importa em televisão é a imagem e a emoção. Poucos acompanham o quadro de medalhas. A classificação só interessa aos governos por questões políticas de afirmação de supremacia e vitória.
O fato é que, o país que somente conseguiu uma medalha de ouro, desperdiçou dinheiro em centenas de atletas para nada. Melhor faria se dispensasse a maioria e ficasse com os melhores.
Já o outro país conseguiu colocar o maior número de atletas no pódio, tendo maior lucro pela exposição e visibilidade de seus representantes.
Outro fator importante, são os investimentos estruturais a longo prazo. Construção de quadras de esporte públicas e em escolas, programas de treinamento e formação de técnicos e outros profissionais da área e, sobretudo, o material humano em idade e condições de competir.
Não podemos comparar resultados atuais com passados em circunstâncias completamente diferente das de agora. O recordista Adhemar Ferreira da Silva, nosso primeiro bicampeão olímpico; recordista no salto triplo, treinava até descalço, numa época de amadores que nem tinham dinheiro para comprar um par de tênis. Jesse Owens, na década de 30, o mestiço de negro e índio norte-americano,
que desmoralizou a propaganda nazista, foi outro exemplo desta precariedade material e de recursos com que se defrontavam os antigos atletas olímpicos.
Façamos uma comparação somente entre as 3 olimpíadas mais recentes.
1996-Atlanta (E.U.A)
O Brasil ficou em 26° lugar na classificação com; 2 de ouro, 3 de prata e 7 de bronze.
Total=12 medalhas.
2000-Sydney (Austrália)
Nos classificamos em 52° lugar.
Não tivemos medalhas de ouro (0), 6 de prata, 6 de bronze.
Total= 12 medalhas.
2004-Atenas (Grécia)
Conseguimos a 1° posição, porém, obtivemos 5 de ouro, 2 de prata, e 3 de bronze.
Total=10 medalhas.
Ou seja, mantivemos praticamente o mesmo número total de medalhas em oito anos e 3 olimpíadas, enquanto a nossa população cresceu em dezenas de milhões, foram feitos investimentos, leis estimulam os patrocínios através de empresas privadas, estatais e órgãos governamentais, bilhões foram gastos e qual foi a relação custo-benefício? Maior investimento, os mesmos ridículos resultados, considerando que somos quase duas centenas de milhões de brasileiros, pelo menos uns 30 milhões em idade de competirem?
Acresça-se a isto, o fato de não termos conseguido em quantidade índices suficientes para competições olímpicas, proporcionalmente ao crescimento de nossa delegação, infestada de dirigentes (“cartolas”) e seus convidados, que viajam e fazem turismo com o nosso dinheiro.
Observem que, tanto fez como tanto faz, se tivéssemos investido ou não, por uma década, pois os resultados seriam os mesmos!
Pasmem!
Quantos atletas recordistas e ouro, norte-americanos que competiram na olimpíada de Atenas retornaram nesta? Pouquíssimos! A renovação deles é estupenda. São um celeiro de atletas e gerações de campeões.
A cada uma, aparece um Spitz, um Phelps, novas meninas da equipe de ginástica, etc.
E nós?
Até decoramos os nomes dos raros que temos ainda competindo, competindo, errando e “morrendo na praia”. Ganham alguma coisa num mundial, num PAN, mas quando chegam na olimpíada...é um fiasco e raríssimos nos dão alguma alegria.
Quais daqueles meninos empolgados que entraram em escolinhas de tênis por causa do Guga
despontaram como seus prováveis substitutos?
E aquela febre de meninas procurando os clubes para serem ginastas depois da Jade e da Daiane? No que deu?
Onde vivem e estudam os nossos nadadores recordistas?
Nos E.U.A. e sob regime disciplinar rigoroso,quase militar, sem poderem nem namorar.
Todos vêm de famílias sólidas, de bom nível educacional, em maioria absoluta do interior, especialmente de São Paulo. A Maggi e o Cielo são exemplos deste celeiro em potencial que é este estado.
Não temos nenhum atleta favorecido pela onda de “inclusão social” ou cotas disputando olimpíadas.
Qual a razão, se agora têm todo o estímulo, incentivo, bolsas universitárias, alimentação, etc?
Porque os universitários norte-americanos “bolsistas” se empenham e conseguem ?
Moro no interior de SP. Vejo uma intensa participação esportiva de colegiais em freqüentes competições. O que acontece com todos estes jovens? Desistem por falta de disciplina ou atrativos financeiros?
Quando selecionamos futuros atletas olímpicos, o principal fator é a “regularidade”, não altas “performances” esporádicas.
Diego Hipólito tem esta regularidade. Jade e Daiane não, nem controle emocional. O que aconteceu com ele só os astros explicam.
Quem está vencendo esta olimpíada, em termos de resultados proporcionais e aproveitamento de material humano?
A China? Os E.U.A?
Eu diria que nenhum dos dois.
Comparando pela estatística, os E.U.A estão em franca decadência em relação ao desempenho da época da “guerra fria” quando travava uma verdadeira guerra com a antiga União Soviética.
Cuba está com o pé na cova depois do sumiço de seu “paizão”.
Não ganham mais nada.
A China pratica torturas físicas em crianças para “criar atletas” que depois vivem confinados em verdadeiros campos de concentração, Com o imenso potencial humano que mais de um bilhão de habitantes oferece, deveria estar vencendo por uma diferença dez vezes maior.
Os verdadeiros vencedores, pelo equilíbrio entre o número de medalhas, comparado com suas populações e retorno em eficácia, numa relação quantitativa, atletas medalhistas por cidadãos, são os países demográfica e territorialmente “médios” , europeus centrais e orientais, incluindo os ex-integrantes da extinta União Soviética, além da Grã-Bretanha e Austrália. Poucos habitantes, porém de alta qualidade em potencial de aproveitamento esportivo, auto-controle, obstinação, técnica, e retorno “per capita” do investimento nacional.
Sabem a razão dos brasileiros chorarem quando vencem e ouvem o hino?
Porque o nosso hino é imponente, marcial e musicalmente lindo na introdução e final.
Mereceria um povo à sua altura e imponência e, quando um atleta vence por sua perseverança, vontade, disciplina, sacrifícios e méritos, imediatamente imagina que, por ser brasileiro, seus compatriotas poderiam aprender com o seu exemplo que poderíamos ter dado certo como país, se não fossemos tão corruptos e corruptíveis, egoístas, indisciplinados, violentos, se não pleiteássemos direitos especiais nem privilégios como as cotas em detrimento das oportunidades de nossos irmãos, se não tentássemos censurar trechos de livros sagrados e punir penalmente os que divergem, ou não aprovam a opção sexual de determinados segmentos, impedindo a livre expressão e liberdade de opinião, de ordem moral ou religiosa, se não estivéssemos invadindo, depredando, vandalizando por puro objetivo e interesses ideológicos radicais, não o direito à terra, se os mensalistas, políticos, governantes, os quarenta ladrões e o seu Ali Babá chefe que está “blindado” e impune no poder estivessem encarcerados e condenados, se tivéssemos um mínimo de vergonha na cara, altivez, auto-estima e orgulho próprio.
O atleta chora, além da emoção e felicidade, de pena, pelo que poderíamos ser, como um povo unido em suas diferenças, mas não somos.
É o choro solitário daquele que soube vencer, pelos que não querem aprender.