sexta-feira, 29 de agosto de 2008

"Cabocla". A nostalgia sadia.



Tudo que mexe com a “Psique” e emoções coletivas, merece ser observado e analisado.
De vez em quando comento, sobre novelas, pois , nas últimas 4 décadas, “fizeram a cabeça” do público atravessando gerações, além de “moldarem” um padrão de comportamento brasileiro.
Novamente, o talento deste autor, Benedito Ruy Barbosa e a extraordinária competência do elenco de atores escolhidos, resultaram em mais um sucesso, mesmo sendo “repeteco”, num horário difícil, quando a maioria está no trabalho.
Se fossem convertidos em termos proporcionais para um horário nobre, os índices da novela “Cabocla” equivaleriam a uns 80% de audiência, coisa que nenhuma novela da 21:00 alcançou nem em sonhos.
Tanto é verdade a capacidade e singeleza deste autor, que a novela "Pantanal", reprisada em condições técnicas de imagens antigas de outro padrão de TV, consegue ameaçar e superar as concorrentes , vinte anos depois de sua vitoriosa trajetória na extinta TV Manchete, quando superou a Rede Globo.
O sucesso de uma novela, depende de 4 fatores conjuntos: a) cenário e locação agradável aos olhos, b) excelentes intérpretes, capazes de “criar trejeitos” e marcar os personagens, c) trilha sonora de alto nível, sem preocupações comerciais, d) ritmo e fidelidade ao roteiro original.
Um exemplo de magistral interpretação e “incorporação” de personagem, foi o magistral desempenho do ator Tony Ramos, talvez em sua melhor “performance” televisiva até hoje.
O coronel “Boanerge” simplesmente superou todas as expectativas, até do autor, pois veio em ritmo e progressão crescentes, incorporando novos trejeitos, expressões faciais e emoções que “transbordavam” num simples olhar, num “fungar”, na gaguejada entrecortada, “grunhidos” e sacolejos de corpo, cativando e emocionando o telespectador.
A boa novela, é aquela que nos faz esquecer que ali estão atores gravando e interpretando. É a que nos transporta para uma outra realidade criada pela ficção, mas que assim não parece ser, nem se mostra, porque respeita os limites de absorção e compreensão do cidadão comum.
Quando tentam subverter e deturpar a realidade que vemos e vivemos no cotidiano, quebrando “tabus”, impondo novos padrões e conceitos, querendo embutir à força em nossas cabeças a cartilha do “politicamente correto”, se dão mal e inexoravelmente fracassam de modo catastrófico, como ocorreu nas recentes novelas de horário nobre da “Plim-Plim”, que , de uns tempos para cá, parece somente empenhada em “corrigir” o que denominam “injustiças sociais”, a despeito do que pensa a imensa maioria do povo, que não é tão burro assim e percebe as manipulações de imagens e mensagens subliminares das cenas apresentadas.
Repararam que as novelas de maior audiência foram aquelas que nos remeteram de volta à uma lembrança atávica, de outros tempos, quando podíamos passear à cavalo ou de charrete, sentar no capim novo, debaixo de uma árvore frondosa, sem nos preocuparmos com violências, sustos nem a proximidade de curiosos?
Quando podíamos caçar e pescar sem sermos indígenas e ninguém vivia aboletado em cima do outro, espremido em “catacumbas de concreto”, como galinhas no poleiro e ratazanas de bueiros?
Numa época em que os papéis eram bem definidos; homem, mulher, jovens, velhos e crianças. Havia algum respeito e as aberrações de comportamento raríssimas.
As mulheres ainda eram respeitadas e o romantismo imperava sobre o hedonismo e o imediatismo sexual. “Morrer de amor” até poderiam, mas nunca por se relacionarem amorosa e sexualmente, pois o estigma do “castigo divino” sobre a anormalidade e libertinagem, só veio há três décadas e não foi fruto do amor entre homens e mulheres, se bem que, as doenças venéreas são seculares, porém, não absolutamente fatais.
Dizem que; “ agora os tempos são outros”, que “precisamos nos adaptar e aceitar os novos padrões”, etc e tal.
Fico me perguntando...será mesmo?
Então por que esta “nostalgia” incontrolável e saudades de outras épocas, quando tudo era tão diferente, as mulheres nem votavam, não iam a clubes de “strippers” fazer libidinagens e sexo explícito, os homens, pelo menos, eram mais responsáveis e respeitosos, apesar de suas “luxúrias” esporádicas e as crianças simplesmente não invadiam o espaço dos adultos nem tinham voz ativa , muito menos se comportavam como vorazes consumidores mal educados, que nem ;“com licença” sabem o que significa?
Agora que as reservas indígenas estão para serem declaradas “nações autônomas” independentes, estou pensando seriamente em pedir asilo político e conseguir um “visto de residência”, dentro do meu próprio país, para poder usufruir das delícias de um rio encachoeirado, poder nadar nu e armado, pescar e caçar, não pagar impostos nem precisar votar, receber apoio internacional e todos os recursos tecnológicos, além dos “royalties” pela exploração de riquezas locais.
De vez em quando ,ir até o Congresso e ministérios, esfregar o meu facão nas caras dos políticos e autoridades, invadir órgãos públicos, seqüestrar e manter em cativeiro "autoridades", sem ser punido nem encarcerado.
Que farra hein?
O Brasil é um país cuja característica mais expressiva é o seu tamanho em terras produtivas. Espaços a serem ocupados por pessoas, pelo povo, não pelo gado de grandes pecuaristas, nem pela mono-cultura predadora, ou retalhado em reservas maiores do que estados e países, nas mãos de poucos, que nada produzirão para os seus semelhantes e não admitem absorver a cultura da maioria de seus compatriotas.
Enquanto sentirmos “nostalgia” por outros tempos, ainda haverá esperança, que alguma “intervenção divina” modifique ou destrua de uma vez por todas esta degradante e atual realidade.
Deixem-me em paz, na minha "nostalgia cabocla"!