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Foi um duplo desafio para o experiente, “purista” e “nostálgico” grande autor;
Benedito Ruy Barbosa, responsável pelo sucesso da novela “Pantanal” na extinta
Rede Manchete, que, pela primeira vez, desbancou a
Rede Globo durante toda sua exibição, inesquecível e repetida recentemente pelo
SBT, realizou a consagrada e romântica; “Cabocla”, enfrentar o decadente horário das seis da “Plim-Plim”, com a missão de recuperar a audiência perdida.
Digo duplamente, porque, no lançamento da novela o autor teceu críticas duras aos demais de sua emissora dizendo que a baixa audiência se devia ao baixo desempenho dos autores, o que provocou um grande “mal estar” entre os “globais”, principalmente o
Falabella, que amargava ter de encurtar sua novelinha claudicante; “Negócio da China”, que acabou por enterrar com “pá de cal” as pretensões de audiência da Globo no horário.
A início,
Benedito pecou pela língua, pois sua novela “Paraíso" ostentou índices nada estimulantes, mas agora , parece que ele está fazendo o “motor pegar no tranco”, com maior espaço para a "moda de viola", duplas famosas, como
Chitãozinho e Xororó, o cantor e personagem fixo;
Daniel e todo aquele “clima” contagiante, de um Brasil que está desaparecendo, minado pela ação massacrante e padronizadora de uma grande mídia do eixo Rio-São Paulo, que elegeu como padrão, as culturas das periferias, favelas e centros de eternas festas como Salvador.
Esta aparente ou mesmo concreta “dicotomia” entre dois pólos culturais de “raízes” profundas nos costumes e “imaginário" brasileiro, parece estar nos levando à uma deterioração de valores, com a prevalência dos “importados” sobre os nacionais.
O que dizem ser cultura “afro”, na verdade não é a tradição ainda mantida a muito custo e penosamente pela religião,
Umbanda,
Candomblé, pelas “mães de santo” e todo o sincretismo realmente brasileiro, mas sim, o que vemos, é uma incorporação total de elementos “alienígenas” de focos de degeneração moral e violência urbana, como os “ghettos” norte-americanos, agora “mimetizados” e copiados por muitas “comunidades carentes”. Ou seja, tudo que poderia enaltecer uma cultura, foi devidamente abafado pela importação deletéria de valores estrangeiros, não condizentes com a História e tradições locais nossas.
Do mesmo modo, a importação de vestimentas, ritmos e eventos tipicamente do oeste norte-americano, como o dos “cowboys”, aviltou e adulterou o verdadeiro “espírito” mais natural e brasileiro do “caipira”, em parte, por causa do enriquecimento e criação de uma classe média de grande poder aquisitivo no interior de nosso país, principalmente no estado de São Paulo, que, talvez, por recalques ou baixa autoestima, tenha preferido “absorver” estes elementos estranhos à sua cultura regional de raiz sertaneja.
Desde o insuperável escritor e jornalista;
Monteiro Lobato, a figura do “Zeca-Tatu”, do “caipira" desdentado e mal vestido,tão bem representado pelo grande produtor, ator e diretor pioneiro;
Mazzaropi, se tornou um “estereótipo” nada agradável aos que nascem no interior. Portanto, seria compreensível esta tentativa de “reerguimento moral” por aqueles que, devido ao novo padrão de vida, não desejassem esta comparação pejorativa, preferindo o “espelho” estrangeiro do “cowboy” norte-americano.
Voltando a tema inicial, sobre a novela “Paraíso”, notamos um gradual aumento da audiência, isto pelos índices divulgados pelos sites especializados, lentamente galgando, ponto a ponto um patamar mais satisfatório do que o da estréia e primeiras semanas.
Isto se deve principalmente, ao aumento destas cenas musicais e presença de “famosas” duplas e cantores, como já citei acima e a um maior ritmo de cenas.
O que tornou mais difícil a tarefa de
Benedito Ruy Barbosa e suas filhas, foi a repeitição de praticamente o mesmo elenco da novela “Cabocla" e a surpreendente presença da atriz
Nathália Dill como protagonista, que, por dois anos, marcou seu personagem em “Malhação” pelo aspecto malévolo de “vilã” e não por um papel de “boazinha”, muito menos “santinha” como em “Paraíso”.
É uma grata surpresa o desempenho até agora desta menina, em que pese este desafio de romper e enterrar uma imagem construída em tanto tempo de uma hora para outra e, sobretudo, também grande coragem do autor em confiar numa atriz de tão recente voo profissional.
Concluindo, é com imenso prazer que posso desfrutar de alguns momentos de inocência, ingenuidade e bons sentimentos de letras e canções tipicamente brasileiras de raiz, como neste concurso de “moda de viola” da rádio local e de todo aquele “clima” de amizade espontânea, livre das malícias intelectuais e invejas, tipicamente urbanas de grandes metrópoles, particularmente por estar morando no interior desde 1992, nascido e criado no Rio de Janeiro e passagens de moradias pelo exterior. Por aqui, no interior de São Paulo, muita coisa mudou, pelo bombardeio incessante da grande mídia e aumento da migração forçada pelas circunstâncias sociais e medidas desastrosas de governos que criaram muitos presídios em nossa região, cujos criminosos trouxeram seus grupos e famílias para cá, infestando o que antes eram cidades tranquilas , seguras e de paz.
De qualquer modo, entre a “histeria” do “Axé” sem grandes méritos musicais, apenas ritmo frenético, a “baixaria” do “Funk” que reduz a mulher brasileira à condição de “cachorra” e a verdadeira música sertaneja de raiz, a da “moda de viola” das violas de 10 cordas e duas vozes, fico com esta última opção, apesar de minha formação musical mais erudita, como ex-compositor, intérprete e arranjador, como atividade paralela durantes meus anos de universidade.
Prefiro acreditar que este verdadeiro e autêntico “Brasil” de bons valores e lirismo ainda exista e sobreviva. Quero crer que meu “Paraíso” esteja bem perto e ao alcance de minhas mãos e sentidos, aqui onde agora vivo.